A União Europeia (UE) e a China estão em um momento decisivo de negociações que podem redefinir o mercado de veículos elétricos. O foco é a possível remoção das tarifas impostas pela UE sobre os carros elétricos chineses, uma medida implementada em 2024 para proteger a indústria automotiva europeia contra práticas consideradas desleais.
O pano de fundo das negociações
As conversas foram desencadeadas após uma reunião entre Maros Sefcovic, comissário europeu de Comércio, e Wang Wentao, ministro do Comércio da China, realizada em março em Pequim. A UE havia imposto tarifas de até 48% sobre veículos elétricos chineses, justificando que subsídios do governo chinês — como empréstimos baratos e acesso privilegiado a matérias-primas — criavam uma concorrência desleal no mercado europeu. Essas tarifas tinham o objetivo de equilibrar o campo competitivo e não excluir os fabricantes chineses, segundo a Comissão Europeia.
Uma oportunidade estratégica para a Europa?
Especialistas acreditam que as negociações podem representar uma oportunidade única para a UE. Anne-Sophie Alsif, economista, argumenta que a dependência crescente da China em relação ao mercado europeu, especialmente após tensões comerciais com os Estados Unidos, coloca a Europa em uma posição vantajosa. Ela sugere que a UE poderia usar essa situação para exigir transferências de tecnologia em troca do acesso ao mercado europeu, replicando práticas adotadas pela própria China no passado.
Essa estratégia seria particularmente relevante no setor de veículos elétricos, onde a Europa ainda enfrenta desafios tecnológicos significativos em comparação com os fabricantes chineses. A BYD, por exemplo, superou a Tesla em receita global em 2024, destacando o avanço tecnológico da China nesse segmento.
Riscos e desafios
Embora promissoras, as negociações não estão isentas de riscos. A remoção das tarifas sem garantias concretas pode expor ainda mais o mercado europeu à concorrência chinesa, potencialmente prejudicando fabricantes locais. Por outro lado, exigir concessões excessivas pode levar a um impasse nas conversas ou até mesmo a retaliações da China.
Além disso, o impacto econômico das tarifas já é visível. As vendas de carros elétricos chineses na Europa caíram significativamente desde sua implementação. Ao mesmo tempo, algumas montadoras chinesas começaram a considerar investir em fábricas na Europa para evitar as tarifas.
Um possível marco nas relações comerciais
Se bem-sucedidas, essas negociações podem marcar um novo capítulo nas relações comerciais entre UE e China. Para a Europa, o desafio será equilibrar seus objetivos: proteger sua indústria automotiva enquanto promove tecnologias verdes e mantém um mercado aberto e competitivo.