Milhões de pessoas foram surpreendidas nesta segunda-feira por um apagão de proporções inéditas que atingiu toda a Península Ibérica e parte do sul da França. O blecaute, iniciado por volta das 12h30 (horário local), interrompeu trens, metrôs, semáforos, telefonia móvel, aeroportos e até hospitais, mergulhando cidades como Madri, Lisboa e Porto no caos e na incerteza sobre a origem do problema.
O gestor da rede elétrica espanhola, Red Eléctrica (REE), relatou uma queda abrupta na demanda de energia, de 27.500 MW para 15.000 MW em questão de minutos. O impacto foi imediato: o transporte ferroviário foi totalmente paralisado na Espanha, com milhares de pessoas evacuadas de estações e trens parados em Madri e Barcelona. No Parlamento espanhol, as atividades foram suspensas, e até o torneio de tênis ATP 1000 de Madri precisou ser cancelado após a interrupção da energia.
No Portugal, a situação não foi diferente. Lisboa e regiões do norte e sul ficaram às escuras, com a polícia reforçando o patrulhamento para controlar o trânsito, já que semáforos e sistemas de sinalização estavam inoperantes. Hospitais e serviços de emergência recorreram a geradores, enquanto postos de gasolina e sistemas de pagamento eletrônico ficaram fora do ar. Em ambos os países, pessoas ficaram presas em elevadores: só em Madri, foram mais de 280 resgates ao longo do dia.
França, por sua vez, foi menos afetada, com quedas de energia rápidas e localizadas, principalmente no País Basco. O operador francês RTE garantiu que o sistema nacional está seguro e que não há risco de propagação do problema para o restante do país. Equipes francesas, inclusive, colaboraram com a Espanha, fornecendo energia para ajudar na retomada do serviço.
Apesar dos esforços das autoridades, a origem do apagão permanece um mistério. O governo espanhol convocou uma reunião extraordinária do Conselho de Segurança Nacional, e o primeiro-ministro Pedro Sánchez pediu calma e responsabilidade à população, orientando que se informem apenas por canais oficiais e evitem especulações. O Centro Nacional de Cibersegurança de Portugal e o Conselho Europeu descartaram, até o momento, a hipótese de ataque cibernético.
Uma possível explicação foi levantada pelo operador português REN, que mencionou um “fenômeno atmosférico raro” como causa inicial. Segundo o comunicado, variações extremas de temperatura teriam provocado vibrações anormais nas linhas de alta tensão, levando a falhas de sincronização entre os sistemas elétricos e, em sequência, a uma reação em cadeia no sistema europeu interligado. Ainda assim, autoridades espanholas ressaltam que todas as hipóteses seguem sendo analisadas.
Retomada lenta e impactos
A normalização do fornecimento de energia tem sido gradual. No início da noite, cerca de 35% do sistema espanhol já havia sido restabelecido, enquanto em Portugal, 750 mil consumidores voltaram a ter luz, mas Lisboa permanecia às escuras. O gestor espanhol estima que o reestabelecimento total pode levar de seis a dez horas, mas em algumas regiões portuguesas não há previsão para o retorno completo.
Os efeitos do apagão vão além do cotidiano doméstico. O setor aéreo foi impactado, com atrasos e cancelamentos em aeroportos de Madri, Barcelona e Lisboa. Quatro usinas nucleares espanholas entraram em modo de segurança, com reatores funcionando apenas com geradores a diesel, como prevê o protocolo em emergências. O comércio de geradores disparou, com lojas ficando sem estoque em cidades industriais como Terrassa, próxima a Barcelona.