Líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, foi condenada nesta segunda-feira (31) por desvio de fundos públicos, recebendo uma pena de cinco anos de inelegibilidade, com efeito imediato, além de quatro anos de prisão – dois deles suspensos e os outros dois a serem cumpridos em prisão domiciliar com monitoramento eletrônico. A decisão do Tribunal Correcional de Paris também incluiu uma multa de 100 mil euros. Essa condenação coloca em risco sua candidatura à presidência nas eleições de 2027, onde era considerada uma das favoritas.
Le Pen reagiu duramente à sentença em entrevista ao Jornal das 20h da TF1, classificando-a como uma “decisão política” destinada a afastá-la da corrida presidencial. “Não vou me deixar eliminar assim. Milhões de franceses acreditam em mim”, declarou enfaticamente. A líder do partido Rassemblement National (RN) prometeu apelar da decisão “o mais rápido possível” e denunciou o que chamou de “violação do Estado de Direito”. Segundo ela, a sentença seria uma tentativa de silenciar as vozes dos eleitores que a apoiam.
Acusações e contexto do caso
O caso envolve acusações de que Marine Le Pen e outros membros do RN desviaram cerca de 4 milhões de euros em fundos do Parlamento Europeu entre 2004 e 2016. Esses recursos, destinados ao pagamento de assistentes parlamentares, teriam sido usados para financiar atividades partidárias na França, o que caracteriza desvio de finalidade. O tribunal destacou que Le Pen desempenhou um “papel central” no esquema, justificando a severidade da pena como forma de prevenir a reincidência.
Sentença também atingiu o partido RN, que foi multado em 2 milhões de euros. A decisão judicial foi descrita pela juíza Bénédicte de Perthuis como necessária para proteger os princípios democráticos na França e na Europa.
Reações políticas e apelo à justiça
Condenação gerou reações imediatas tanto na França quanto no exterior. Jordan Bardella, presidente do RN e considerado o sucessor político de Le Pen, criticou a decisão como um ataque à democracia francesa. Já líderes internacionais aliados à extrema-direita, como Viktor Orbán, da Hungria, e Matteo Salvini, da Itália, expressaram solidariedade a Le Pen.
Apesar das dificuldades impostas pela sentença, Marine Le Pen demonstrou resiliência ao afirmar que há um “caminho estreito” para reverter a decisão por meio do recurso judicial. Contudo, especialistas apontam que o sistema jurídico francês pode ser lento, dificultando uma decisão favorável antes do prazo para registro das candidaturas presidenciais.
Impacto político e futuro incerto
Inelegibilidade de Marine Le Pen representa um golpe significativo para o RN, partido que ela liderou em sua ascensão da periferia política ao centro do debate nacional. Com Emmanuel Macron fora da disputa devido ao limite de mandatos presidenciais, Le Pen era vista como uma forte concorrente para 2027. Pesquisas recentes indicavam que ela poderia conquistar entre 34% e 37% dos votos no primeiro turno.
Agora, o partido enfrenta o desafio de decidir se aposta na possibilidade remota de Le Pen recuperar sua elegibilidade ou se avança com outro candidato, possivelmente Bardella. No entanto, essa transição não é simples: enquanto a base do partido está unida em torno de Le Pen, Bardella ainda não conquistou o mesmo nível de apoio interno.
A situação também pode fortalecer a narrativa do RN como vítima do “sistema”, mobilizando sua base eleitoral e ampliando seu apelo junto aos eleitores descontentes com as elites políticas tradicionais. Por outro lado, o caso lança dúvidas sobre a viabilidade da estratégia política da extrema-direita francesa nos próximos anos.